Governo reduz alíquota do imposto de 4% para
3% nas vendas de alimentos, mas queda não chegará aos consumidores
Paulo Henrique Lobato
Depois de perder margem de lucro com as sucessivas
disparadas dos preços de alimentos, os cerca de 50 mil restaurantes, bares e
lanchonetes em Minas Gerais vão pagar menos impostos. A partir de 1º de agosto,
a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cairá
de 4% para 3% nas vendas de comida, sejam pratos ou tira-gostos – o tributo
continuará em 4% para as demais operações. Já em 1º de setembro, o cálculo do
chamado imposto devido deixa de incidir sobre as gorjetas. Dificilmente, porém,
a maioria dos empresários vai repassar a queda do tributo aos consumidores.
A inflação dos alimentos nos últimos meses é uma das
explicações. O preço do tomate, por exemplo, subiu tanto nos dois últimos
semestres que virou chacota nas redes sociais. Apenas a título de recordação, o
quilo do produto subiu de R$ 3 para R$ 8 em alguns sacolões. Houve dono de
estabelecimento que colocou aviso pedindo desculpas à clientela e explicando
que o valor do fruto subiu em razão de condições climáticas. Agora, donos de
bares, restaurantes e lanchonetes esperam minimizar as perdas nas margens de
lucro.
Embora dificilmente os empresários repassem a exoneração
de impostos às contas dos clientes, a redução determinada pelo governo evitará
– ou pelo menos adiará – novos aumentos nos preços. Tanto o governo estadual,
autor do decreto que reduziu o ICMS, quanto a Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel), entidade que batalha há tempos pelo corte na carga
tributária, avaliaram que as medidas vão reduzir a informalidade.
Para a equipe do governador Antonio Anastasia, a
formalidade deve crescer 15%. “São medidas importantes na luta contra a
informalidade. Muitas empresas funcionam sem declarar devido aos altos impostos
ou então sobrevivem da informalidade. Em outros estados em que as medidas foram
adotadas, houve aumento de ganho para o governo, pois estabelecimentos saíram
da informalidade”, disse Fernando Júnior, presidente da Abrasel em Minas e
sócio da churrascaria Porcão de BH.
Ele ressalta, porém, que o governo exige condicionantes
para a exoneração parcial. Entre elas estão o uso de equipamento emissor de
cupom fiscal, o chamado ECF, ou de documentos fiscais por processamento
eletrônico de dados, a PED. O empreendimento também deve estar em dia com o
Fisco mineiro. O setor de alimentação em Minas não é o primeiro a se beneficiar
no estado. No Rio de Janeiro, a alíquota caiu de 4% para 2%.
Expectativa
Em Pernambuco, a queda foi de 4,5% para 2%. Esse mesmo
percentual vigora no Distrito Federal e no Espírito Santo. Na Paraíba, o ICMS é
de 2,85%. Nos bastidores da Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), porém, há
uma conversa de que a alíquota em Minas também pode cair para 2%, no próximo
ano, caso a receita com a arrecadação do ICMS seja mantida com a migração de
informais para a formalidade.
O empresário Tarcílio Vieira, dono do Restaurante O
Conde, no Bairro Cidade Jardim, torce para novas quedas: “Todo incentivo para
melhorar o setor é bem-vindo. A diminuição de 4% para 3% será importante na
soma total dos valores, no montante. Ajudará a amenizar a perda (na margem de
lucro) com a inflação dos alimentos registrados nos dois últimos semestres”.
O pré-vestibulando Matheus Bonera Caus, de 20, torce para
que os preços da alimentação fora do lar caia com as novas medidas. Ele mora em
apartamento custeado pelos pais, que residem no interior, e tem o hábito de
almoçar e lanchar fora de casa: “Os preços subiram muito nos restaurantes e nas
lanchonetes. O jeito foi cortar gastos supérfluos, como chocolates”.